Texto Originalmente publicado por Editora Brasil

O palestrante e autor de literatura infantil e juvenil César Obeid lançou em setembro deste ano sua nova obra Suave aroma dos campos de lavandaPublicado pela Editora do Brasil, o livro apresenta a história de Joyce, uma jovem que precisa lidar com o luto pela morte dos pais enquanto sofre restrições alimentares por descobrir que é celíaca, o que a impede de comer muito do que as “pessoas normais” comem. O drama adolescente nos leva a uma incrível jornada de autoconhecimento e amadurecimento, na qual a protagonista precisa lidar com problemas além da idade. 

Drama adolescente: “é preciso sensibilizar sem usar violência”

As desventuras de Joyce não param por aí. A narrativa segue contando os desdobramentos no pós falecimento dos pais da protagonista, que, em meio à burocracia necessária e ao Ensino Médio, ainda precisa lidar com um segredo que o pai, em vida, guardou por mais de uma década. 

Ao proporcionar tantos episódios complexos, o livro apresenta ao leitor juvenil uma carga considerável de dramaticidade. Para o autor, essa nuance é necessária ao jovem. “É preciso sensibilizá-los”, explica Obeid. “Ao apresentar temas como a doença celíaca, que é um drama real, é possível atingir o jovem sem que para isso seja preciso usar violência, que é muito adotada nas histórias de hoje”, defende. 

Talvez esse seja exatamente o melhor momento para impactar e sensibilizar o jovem leitor. A última pesquisa Retratos da Literatura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro em 2016, apontou um crescimento da população leitora nacional. Segundo o levantamento, 104 milhões de brasileiros podem ser considerados leitores, o que corresponde a 56% da população, ante os 50% da edição anterior da pesquisa, realizada em 2011. A quantidade média de livros consumidos por pessoa também aumentou, passando de 4 para 4,96 por ano. 

A mesma pesquisa avaliou que grande parte do público infantojuvenil, jovens de 5 a 17 anos, que podem ser considerados leitores (isto é, leram pelo menos um livro, inteiro ou em partes, nos últimos três meses) leem por vontade própria. A segunda motivação não poderia ser menos evidente: a obrigação escolar.

O aumento da população leitora, ainda que tímido, representa um momento de ação para os autores – ainda mais quando boa parte dos jovens ainda lê por gosto. “É preciso que o adolescente aprenda [com a literatura] que é preciso lidar com situações que a gente não quer”, pondera Obeid. “E o mundo sempre vai falar isso para nós: ‘não vai ser como você quer’. E a gente precisa aprender a lidar com isso”. Daí a importância do drama adolescente tão marcado em Suave aroma dos campos de lavanda.São dramas reais que o jovem deve saber que existem para aprender a como reagir”, diz o autor. “Joyce não teve tempo de chorar a perda dos pais ou a doença celíaca. É um drama atrás do outro. Ela não queria perder os pais, queria comer pizza por todo canto. Mas como ela vive com isso? Ela para, respira, e aprende a se adaptar a uma situação que foi obrigada a viver”, completa.

Precisamos falar sobre bullying

Em meio ao turbilhão de dramas envolvendo sua saúde e a morte dos pais, Joyce, então amparada apenas pela avó, que viaja do interior para acompanhar a neta, ainda precisa lidar com outras questões: o bullying no colégio onde estuda o Ensino Médio.

“Para que o bullying exista, ele precisa ter a intenção, querer ridicularizar o outro; precisa ter público e desequilíbrio na relação de poder”, explica César. A combinação desses três elementos não é encontrada somente em Suave aroma dos campos de lavanda, como também é a realidade de muitas escolas brasileiras. 

Sobre essa questão, o autor comenta sobre vivermos “em bolhas” – “cada vez que vemos um conteúdo na internet, recebemos mais e mais do mesmo conteúdo”, avalia, o que acaba por diminuir o contato do jovem com o diferente, alimentando a intolerância, o que dá vazão para o bullying. 

É preciso conversar sobre bullying não apenas com quem sofre, mas também com quem pratica”, César opina. “Quem faz a prática, quem ridiculariza o outro, normalmente tem algo por trás. Então, porque não chegar e conversar também; ver como andam as coisas com o jovem, com a família?”, comenta. É exatamente essa a proposta de Suave aroma. Emily, ao viver uma relação conturbada com Joyce no Ensino Médio, tem seu passado e suas raízes explorados com maestria, humanizando não apenas a protagonista, mas também quem comete erros. “O bullying sempre existiu, e vai continuar existindo. Mas é necessário humanizar quem o faz, para podermos compreender, ajudar, e contornar a prática”.

Com uma narrativa forte e, ao mesmo tempo, delicada e envolvente, Suave aroma dos campos de lavanda promete ganhar pais e filhos, alunos e professores, certamente se consolidando como uma literatura essencial para trabalhar diversas competências socioemocionais dos alunos em sala de aula.

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